Comparações Precisam ser Melhoradas- Continuação

Damos sequência ao último post, no qual abordamos algumas características importantes dos sistemas químico e biológico na agricultura. Este post completa o anterior e ressalta o fato de que essas características estão ausentes da maioria de estudos comparativos entre o sistema de produção convencional e o orgânico em agricultura.  

De fato, nas comparações entre os referidos sistemas percebe-se que o método usual para aferir impactos na agricultura e alimentos consiste na chamada avaliação do ciclo de vida (ACV).

Baseado nesse método, os estudos atuais em grande parte afirmam que a agricultura orgânica é pior por ser menos produtiva e, portanto, usa mais espaços para garantir a mesma produção, colocando em risco a segurança alimentar da população prevista de 9 bilhões de pessoas em 2050. 

Todavia, crescente número de trabalhos mostra que a AVC é claramente incompleta ao desconsiderar evidentes benefícios da agricultura orgânica bem como custos crescentes da convencional. Dentre tais custos encontram-se perdas de eficiência de herbicidas com o passar dos anos ( por exemplo com o surgimento do “supermato“ resistente ao glifosato),  bem como danos à  saúde evidenciados em ações judiciais nos Estados Unidos, motivo de post anterior.  Os custos pagos pela sociedade, como um todo, como resultado de poluição resultante de nutrientes químicos de alta solubilidade e de defensivos tóxicos também não são mensurados.

Em economia,  custos dessa natureza, que são absorvidos por terceiros, como empobrecimento do meio ambiente, incluindo nitrificação de aquíferos, perdas de vida do solo e diversos outros são conhecidos como “externalidades“.  São pagos por todos, e não apenas pelos que se beneficiam dos produtos que geraram essas externalidades. 

Por outro lado, avaliação mais abrangente da questão levaria a dimensionar adequadamente fatores vitais na agricultura como biodiversidade, qualidade do solo e do meio ambiente, São as chamadas externalidades positivas, que trazem benefícios para terceiros.

São precisamente essas externalidades, tanto positivas quanto negativas em ambos sistemas – convencional e orgânico –, que precisam ser computados de forma abrangente e bem documentada. Tenderão a se tornar referência fundamental nas futuras comparações entre agricultura convencional e orgânica de maneira estruturada e bem fundamentada, compreendendo custos e benefícios na sua integralidade, tanto atuais quanto futuros, tanto locais quanto regionais.

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